Artigo escrito pela Terapeuta Ocupacional, Gisleine Martin
Os estudos atualizados de plasticidade neuromuscular realizados por Taub (1999), Nudo (1999), Weiller (1999), vêm demonstrando através de PET scan (Tomógrafo de Emissão Positrônica) e TSM (Estimulação Transcranial Magnética) o quanto o nosso SNC (Sistema Nervoso Central), especificamente o córtex motor e sua área de representação, pode ser alterado em função de vivências e treinamentos.
Esses estudos comprovam que o treinamento de uma determinada parte do corpo, de forma sistematizada, diversificada e controlada, refletirá num aumento considerável da representação dessa área no mapa cortical.
Por outro lado, alertam para o desuso e as implicações advindas pós-lesão, amputação, traumatismos, etc. como fatores que reduzem a representação do mapa cortical.
Conforme comprovações realizadas nessas e outras pesquisas (Diamond, 2000) a plasticidade cerebral reflete a experimentação e vivência diária do indivíduo (Kandel, 1997). Nosso mapa motor-cognitivo sofre alterações a cada nova experiência e conhecimentos adquiridos.
No entanto sabe-se a importância do córtex associativo para a aprendizagem, especialmente a ação proposital. Toda a nossa aprendizagem sensório-motora é registrada, decodifica e memorizada através dos caminhos funcionais. As áreas de associação estão relacionadas com percepção, movimento e motivação. Assim movimentos passivos, estimulação táctil passiva e exercícios desprovidos de eficácia funcional para o SNC, não são interpretados pelo córtex associativo.
Dessa forma relacionando à nossa prática terapêutica, um movimento destituído de um aporte funcional não é incorporado por uma criança com lesão neuromotora.(Levin, 2000) (Carr, 1998).
Esses achados, agora comprovados por ferramentas avançadas de análise, estão nos últimos anos modificando as abordagens de tratamento, principalmente o Conceito de Tratamento Neuroevolutivo (NDT), que entende agora, a necessidade não só do feedback motor, como também o feedforward (antecipação) que é a imagética do movimento e da sensação que foi armazenada nos bancos de memória do córtex associativo, impregnada das sensações provocadas pelas experiências prévias e aprendizagens funcionais. (Lent, 2001)
O movimento está presente no ser humano impregnado de sensações dos sistemas: sensorial somático (propriocepção, tato, nocicepção, pressão e temperatura), vestibular, visual, auditivo e gustativo. De maneira ergonômica o SNC busca sempre as melhoras rotas para realizar essas tarefas operacionais com eficácia energética. (Shumnway-Cook, 1995).
Para Jean Ayres, que desenvolveu a teoria de Integração Sensorial (SI), a organização das sensações do corpo e do meio ambiente em um processo freqüente de reconhecimento, interpretação e ação, resulta na Integração Sensorial.
No desenvolvimento da criança, esse processo é o caminho da decodificação de cada estímulo e a sua resultante, é o desenvolvimento da capacidade de perceber, aprender e organizar estímulos corporais e ambientais e de processá-los para as funções e atividades significativas, é o caminho de dar significado a cada sensação, a cada experiência. (Ayres, 1979).
Essas respostas adaptativas que a criança processa através da experimentação cada vez mais ampla em graus, tipos e combinações de informações sensoriais, são impregnadas de objetivos e intenções e resultam numa modificação do meio ambiente. Essas experiências são armazenadas pelo SNC, e serão as memórias sensoriais resgatadas em experimentações futuras.
Esse processo de interagir com eficiência e segurança às demandas e desafios do meio ambiente, se traduz por maior capacidade de organização sensorial e maior capacidade de produzir respostas adaptativas complexas. (Fisher e col, 1991).
Assim, SI é um processo neuronal de recepção, registro e organização do input sensorial que será utilizado para as respostas adaptativas do nosso corpo às interações com o meio ambiente.
Esse processo inicia-se durante o desenvolvimento pré-natal, e para Ayres, esse processamento reflete-se em desenvolvimento e organização do vínculo pai-filho, em desenvolvimento social, em auto-estima e auto-regulação.
Assim SI não é somente a base da aprendizagem como também é a base de um adequado desenvolvimento emocional.
Sabe-se também que através das redes interconectivas neuronais, os diversos sistemas operacionais se relacionam intercambiando funções e informações.O processamento de informações mais complexo é feito por conexões em série e em paralelo de diversas regiões cerebrais, enquanto que regiões distintas e localizadas são responsáveis por operações elementares. (Kolk, 2000)
Segundo Kandel (1997), mesmo quando a função desaparece de primeiro momento, com o passar do tempo poderá ser retomada parcialmente, porque áreas não lesadas, de uma certa maneira irão reorganizar-se para realizar essa função perdida. A mais simples tarefa cognitiva demandará a coordenação de diversas áreas cerebrais distintas. (Kandel, 1977).
A Neurociência compreende também hoje que aportes cognitivos ampliam aportes motores, que aportes sensoriais ampliam aportes cognitivos e vice-versa sucessivamente (Damásio, 2000).
Conhecendo essas novas descobertas autoras como: Blanche, Botticelli, Hallway, (1995), vêm propondo aos profissionais de reabilitação neuro-motora que utilizem a combinação das abordagens NDT e SI, como formas complementares de tratamento. Enquanto o NDT busca o aprimoramento motor, o SI busca fornecer recursos para diminuir o impacto que o sistema sensorial deficitário causa ao sistema cognitivo-motor.
As equipes formadoras de NDT agora, Bly (1997) entre outras, entedem que os exercícios motores devem equacionar atividades que sejam funcionalmente relevantes para o ambiente sócio-emocional e familiar do indivíduo.
Complementando ainda esses achados, os neurocientistas alertam que a plasticidade neuromuscular tão necessária aos indivíduos com lesão neuromotora só poderá ser eficaz se forem considerados os fatores: quantidade, sistematização, freqüência, adequação funcional e ativação do sistema motivacional.
O Sistema Límbico, um dos principais sistemas responsáveis pelas emoções, tem importante influência sobre a plasticidade cerebral. A felicidade e o medo podem ativar ou paralisar respectivamente o córtex motor.
Considerando o acima exposto brevemente, sugerimos uma sala de estimulação sensório-motora-cognitiva, rica de atrativos visuais, desafios e facilitadora de experiências funcionalmente ativadoras de mecanismos de ajustes posturais (reações de endireitamento, de equilíbrio e proteção), de experimentações graduadas motoras e sensoriais.
Uma verdadeira academia de fortalecimento de aprendizado integral, lúdica e um lugar de aconchego emocional e bem-estar. Um lugar para as crianças brincarem felizes enquanto fortalecem e ampliam as redes neuronais do córtex integrativo.
Bibliografia :
Ayres, A. J. Sensory integration and the child, Los Angeles, Western Phychological, 1979.
Blanche, E. I., Botticelli, T. M., Hallway, M. K. Combining neuro-developmental treatment and sensory integration principles an approach to pediatric therapy, Arizona, The Psychological Corporation, 1995.
Bly, L. A historical and current view of the basis of NDT, Pediatric Physical Therapy, 3:131-135., 1991
Carr, J. H. e Shephered, R. B. Neurological Rehabilitation. Optimizing motor performance, Oxford, Butterworth Heinemann, 1998.
Cohen, H. Neurosciense for Rehabilitation, Texas, Lippincott Williams & Wilkins, 1999.
Diamond, M. e Hopson, J. Árvores Maravilhosas da Mente, Rio de Janeiro, Editora Campus, 2000.
Damásio, A. R. O erro de descartes, emoção, razão e o cérebro humano, São Paulo, Companhia das Letras, 2000.
Fisher, A. G., Murray, E. A., Bundy, A. C. Sensory Integration, Theory and Pratice, Philadelphia, F. A. Davis Company, 1991.
Gazzaniga, M.S. (ed.) The Cognitive neurosciences, The MIT Press, Massachussets, 1997
Kandel, E. R., Schwartz J. H., Jessell, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento, Rio de Janeiro, Editora Prentice-Hall do Brasil Ltda, 1997.
Kolk, H. H. J. Multiple Route Plasticity, Brain and Language, 71: 29-131, 2000.
Lent, R. Cem bilhões de neurônios, conceitos fundamentais de neurociência, São Paulo, Editora Atheneu, 2001.
Levin, H. S. e Grafman, J.(eds.) Cerebral Reorganization of Function After Brain Damage, New York, Oxford University Press, 2000.
Nudo, R. J. e Friel, K. M. Cortical plasticity after stroke: implications for rehabilitation, Revue Neurologique, 155 : 713-17, 1999.
Shumway-Cook, A. e Woollacott, M. Motor Control, Theory and practical applications, Baltimore, Lippincott Williams & Wilkins, 1995.
Taub, E. e col. Constraint-Induced Movement Therapy: A new family of techiques with broad apllication to Physical rehabilitation - a clinical review . Journal of Rehabilitation Research and Development, Vol. 36 (3): 363-379, 1999.
Weiller, C. e Rijntjes, M. Learning, plasticity, and recovery in the central nervous sustem. Experimental Brain Research 128: 134-138, 1999.
Esses estudos comprovam que o treinamento de uma determinada parte do corpo, de forma sistematizada, diversificada e controlada, refletirá num aumento considerável da representação dessa área no mapa cortical.
Por outro lado, alertam para o desuso e as implicações advindas pós-lesão, amputação, traumatismos, etc. como fatores que reduzem a representação do mapa cortical.
Conforme comprovações realizadas nessas e outras pesquisas (Diamond, 2000) a plasticidade cerebral reflete a experimentação e vivência diária do indivíduo (Kandel, 1997). Nosso mapa motor-cognitivo sofre alterações a cada nova experiência e conhecimentos adquiridos.
No entanto sabe-se a importância do córtex associativo para a aprendizagem, especialmente a ação proposital. Toda a nossa aprendizagem sensório-motora é registrada, decodifica e memorizada através dos caminhos funcionais. As áreas de associação estão relacionadas com percepção, movimento e motivação. Assim movimentos passivos, estimulação táctil passiva e exercícios desprovidos de eficácia funcional para o SNC, não são interpretados pelo córtex associativo.
Dessa forma relacionando à nossa prática terapêutica, um movimento destituído de um aporte funcional não é incorporado por uma criança com lesão neuromotora.(Levin, 2000) (Carr, 1998).
Esses achados, agora comprovados por ferramentas avançadas de análise, estão nos últimos anos modificando as abordagens de tratamento, principalmente o Conceito de Tratamento Neuroevolutivo (NDT), que entende agora, a necessidade não só do feedback motor, como também o feedforward (antecipação) que é a imagética do movimento e da sensação que foi armazenada nos bancos de memória do córtex associativo, impregnada das sensações provocadas pelas experiências prévias e aprendizagens funcionais. (Lent, 2001)
O movimento está presente no ser humano impregnado de sensações dos sistemas: sensorial somático (propriocepção, tato, nocicepção, pressão e temperatura), vestibular, visual, auditivo e gustativo. De maneira ergonômica o SNC busca sempre as melhoras rotas para realizar essas tarefas operacionais com eficácia energética. (Shumnway-Cook, 1995).
Para Jean Ayres, que desenvolveu a teoria de Integração Sensorial (SI), a organização das sensações do corpo e do meio ambiente em um processo freqüente de reconhecimento, interpretação e ação, resulta na Integração Sensorial.
No desenvolvimento da criança, esse processo é o caminho da decodificação de cada estímulo e a sua resultante, é o desenvolvimento da capacidade de perceber, aprender e organizar estímulos corporais e ambientais e de processá-los para as funções e atividades significativas, é o caminho de dar significado a cada sensação, a cada experiência. (Ayres, 1979).
Essas respostas adaptativas que a criança processa através da experimentação cada vez mais ampla em graus, tipos e combinações de informações sensoriais, são impregnadas de objetivos e intenções e resultam numa modificação do meio ambiente. Essas experiências são armazenadas pelo SNC, e serão as memórias sensoriais resgatadas em experimentações futuras.
Esse processo de interagir com eficiência e segurança às demandas e desafios do meio ambiente, se traduz por maior capacidade de organização sensorial e maior capacidade de produzir respostas adaptativas complexas. (Fisher e col, 1991).
Assim, SI é um processo neuronal de recepção, registro e organização do input sensorial que será utilizado para as respostas adaptativas do nosso corpo às interações com o meio ambiente.
Esse processo inicia-se durante o desenvolvimento pré-natal, e para Ayres, esse processamento reflete-se em desenvolvimento e organização do vínculo pai-filho, em desenvolvimento social, em auto-estima e auto-regulação.
Assim SI não é somente a base da aprendizagem como também é a base de um adequado desenvolvimento emocional.
Sabe-se também que através das redes interconectivas neuronais, os diversos sistemas operacionais se relacionam intercambiando funções e informações.O processamento de informações mais complexo é feito por conexões em série e em paralelo de diversas regiões cerebrais, enquanto que regiões distintas e localizadas são responsáveis por operações elementares. (Kolk, 2000)
Segundo Kandel (1997), mesmo quando a função desaparece de primeiro momento, com o passar do tempo poderá ser retomada parcialmente, porque áreas não lesadas, de uma certa maneira irão reorganizar-se para realizar essa função perdida. A mais simples tarefa cognitiva demandará a coordenação de diversas áreas cerebrais distintas. (Kandel, 1977).
A Neurociência compreende também hoje que aportes cognitivos ampliam aportes motores, que aportes sensoriais ampliam aportes cognitivos e vice-versa sucessivamente (Damásio, 2000).
Conhecendo essas novas descobertas autoras como: Blanche, Botticelli, Hallway, (1995), vêm propondo aos profissionais de reabilitação neuro-motora que utilizem a combinação das abordagens NDT e SI, como formas complementares de tratamento. Enquanto o NDT busca o aprimoramento motor, o SI busca fornecer recursos para diminuir o impacto que o sistema sensorial deficitário causa ao sistema cognitivo-motor.
As equipes formadoras de NDT agora, Bly (1997) entre outras, entedem que os exercícios motores devem equacionar atividades que sejam funcionalmente relevantes para o ambiente sócio-emocional e familiar do indivíduo.
Complementando ainda esses achados, os neurocientistas alertam que a plasticidade neuromuscular tão necessária aos indivíduos com lesão neuromotora só poderá ser eficaz se forem considerados os fatores: quantidade, sistematização, freqüência, adequação funcional e ativação do sistema motivacional.
O Sistema Límbico, um dos principais sistemas responsáveis pelas emoções, tem importante influência sobre a plasticidade cerebral. A felicidade e o medo podem ativar ou paralisar respectivamente o córtex motor.
Considerando o acima exposto brevemente, sugerimos uma sala de estimulação sensório-motora-cognitiva, rica de atrativos visuais, desafios e facilitadora de experiências funcionalmente ativadoras de mecanismos de ajustes posturais (reações de endireitamento, de equilíbrio e proteção), de experimentações graduadas motoras e sensoriais.
Uma verdadeira academia de fortalecimento de aprendizado integral, lúdica e um lugar de aconchego emocional e bem-estar. Um lugar para as crianças brincarem felizes enquanto fortalecem e ampliam as redes neuronais do córtex integrativo.
Bibliografia :
Ayres, A. J. Sensory integration and the child, Los Angeles, Western Phychological, 1979.
Blanche, E. I., Botticelli, T. M., Hallway, M. K. Combining neuro-developmental treatment and sensory integration principles an approach to pediatric therapy, Arizona, The Psychological Corporation, 1995.
Bly, L. A historical and current view of the basis of NDT, Pediatric Physical Therapy, 3:131-135., 1991
Carr, J. H. e Shephered, R. B. Neurological Rehabilitation. Optimizing motor performance, Oxford, Butterworth Heinemann, 1998.
Cohen, H. Neurosciense for Rehabilitation, Texas, Lippincott Williams & Wilkins, 1999.
Diamond, M. e Hopson, J. Árvores Maravilhosas da Mente, Rio de Janeiro, Editora Campus, 2000.
Damásio, A. R. O erro de descartes, emoção, razão e o cérebro humano, São Paulo, Companhia das Letras, 2000.
Fisher, A. G., Murray, E. A., Bundy, A. C. Sensory Integration, Theory and Pratice, Philadelphia, F. A. Davis Company, 1991.
Gazzaniga, M.S. (ed.) The Cognitive neurosciences, The MIT Press, Massachussets, 1997
Kandel, E. R., Schwartz J. H., Jessell, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento, Rio de Janeiro, Editora Prentice-Hall do Brasil Ltda, 1997.
Kolk, H. H. J. Multiple Route Plasticity, Brain and Language, 71: 29-131, 2000.
Lent, R. Cem bilhões de neurônios, conceitos fundamentais de neurociência, São Paulo, Editora Atheneu, 2001.
Levin, H. S. e Grafman, J.(eds.) Cerebral Reorganization of Function After Brain Damage, New York, Oxford University Press, 2000.
Nudo, R. J. e Friel, K. M. Cortical plasticity after stroke: implications for rehabilitation, Revue Neurologique, 155 : 713-17, 1999.
Shumway-Cook, A. e Woollacott, M. Motor Control, Theory and practical applications, Baltimore, Lippincott Williams & Wilkins, 1995.
Taub, E. e col. Constraint-Induced Movement Therapy: A new family of techiques with broad apllication to Physical rehabilitation - a clinical review . Journal of Rehabilitation Research and Development, Vol. 36 (3): 363-379, 1999.
Weiller, C. e Rijntjes, M. Learning, plasticity, and recovery in the central nervous sustem. Experimental Brain Research 128: 134-138, 1999.
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