Segundo especialistas, as técnicas de dissimulação são aprendidas pelas crianças desde cedo - e não por meio de colegas, mas com os próprios pais
O professor de psicologia Robert Feldman, da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, filmou a interação entre mais de 50 pares de pessoas que acabavam de se conhecer e constatou que elas mentiam em média três vezes numa conversa de dez minutos. Feldman, uma autoridade mundial sobre o tema e autor do livro recém-lançado no Brasil "Quem É O Mentiroso da Sua Vida? Por Que As Pessoas Mentem e Como Isso Reflete no Nosso Dia a Dia", constata que recorrer a desvios da verdade, além de ser quase uma questão cultural, é um recurso de sobrevivência social inescapável.
"Em geral, mentimos para tornar as interações sociais mais fáceis e agradáveis, dizendo o que os outros querem ouvir, ou para parecermos melhores do que realmente somos", disse. Segundo ele, o problema é que meros desvios dos fatos podem crescer e virar uma bola de neve, gerando relacionamentos baseados no engano. "Devemos ser mais verdadeiros e demandar a honestidade", conclama Feldman. Na maioria das vezes, a realidade é deturpada sem malícia. São as mentiras brancas, que funcionam, nas palavras do especialista, como "lubrificantes sociais". Isso não acontece apenas nas conversas entre estranhos, permeia também os relacionamentos mais íntimos e relações familiares.
A psicóloga carioca Mônica Portella estudou sinais não verbais da comunicação, como movimentos dos olhos e gestos das mãos, para ver se é possível detectar os momentos em que uma pessoa diz inverdades. "A taxa de acerto de um leigo é de 50%", revela. Segundo especialistas, as técnicas de dissimulação são aprendidas pelas crianças desde cedo, e não por meio de colegas, mas com os próprios pais. "O processo educacional inibe a franqueza", aponta a professora de psicologia social da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro,Teresa Creusa Negreiros. Segundo ela, uma menina que ganha uma roupa será vista como mal-educada se disser, de cara, que achou o modelo feio.
O paradoxo é que, embora a sociedade condene a mentira, quem falar a verdade nua e crua o tempo todo será considerado grosseiro e desagradável. "Mentir por educação é diferente de ter um mau caráter", pondera Teresa. Mas, para Feldman, mesmo as mentiras inofensivas devem ser evitadas, com jeitinho. "Nossos filhos não precisam ser rudes e dizer que detestaram um presente, mas podemos ensiná-los a ressaltar algum aspecto positivo dele, em vez de dizer que gostaram", observa. Segundo a psicanalista Ruth Helena Cohen, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além das mentirinhas brancas, há aquelas contadas com dolo: são trapaças e traições para beneficiar quem conta ou prejudicar o outro, como ganhar uma confiança não merecida ou cometer uma fraude financeira. Em casos mais raros, a mania de inventar e alterar os acontecimentos pode revelar uma patologia. É a chamada "mitomania", ou compulsão por mentir, que demanda tratamento psicológico. Uma das razões pelas quais contamos tanta mentira é que raramente nos damos mal por isso. O mentiroso tem duas vantagens: a maioria das conversas está baseada na presunção da verdade e é praticamente impossível identificar uma inverdade no ato.
Revista Istoé, Maíra Magro – 20/09/2009
Penso, que na maioria das vezes mentimos por diversas razões:uma delas é quando mentimos para nos defender de algo complicado, más não concordo quando se mente por mentir ou simplismente por achar confortável.Acredito que nunca se deve mentir pra quém você ama de verdade, pois cria-se um ato de desconfiança futura e desapego, por achar que essa pessoa dizia que o amava tanto...
ResponderExcluir(Él-Poeta Morto).