O novo conceito do Exame Nacional do ensino médio (Enem), a ser testado nos dias três e quatro de outubro, será o passo decisivo de uma revolução na educação do País. Para os alunos se saírem cada vez melhor nele e terem a oportunidade de ingressar em universidades de qualidade, as escolas já estão repensando o jeito de ensinar, desde a educação infantil.
Em maio foi divulgada a reformulação da prova, criada em 1998. As alterações serão decisivas para boa parte dos cerca de 1,5 milhão de estudantes que ingressarão na universidade no ano que vem. Para isso, as instituições de ensino terão de oferecer aos estudantes a oportunidade de debater um mesmo assunto em várias matérias do currículo escolar, de maneira integrada. Os professores também serão obrigados a se atualizar. Quem não voltar a estudar e valorizar a transmissão de um ensino inteligente, está fadado a ficar para trás. O Enem se tornou um indicador de qualidade tão importante que pais de crianças já escolhem a escola dos filhos usando o ranking como critério.
Para o coordenador de vestibular do Colégio Bandeirantes, em São Paulo, Osmar Ferraz, a preocupação é válida, mas precipitada. Primeiro por não existirem garantias - apesar de ser a hipótese mais provável - de que as escolas campeãs no Enem hoje continuem assim com o passar do tempo. Segundo, porque vale mais optar por uma instituição na qual os valores são semelhantes aos da família da criança. Por fim, deixar a criança numa escola em que ela não consegue acompanhar o ritmo puxado pode ser um massacre, que gera traumas e interfere na boa formação.
Pais que desejam garantir uma educação de qualidade devem ficar atentos se a escola escolhida está adaptada às atuais regras do ensino fundamental. Antes, era obrigatório dos sete aos 14 anos (da 1ª a 8ª série). A nova faixa etária vai dos seis aos 14 anos (do 1° ao 9° ano). Além de um ano a mais de estudo, as diretrizes pedem espaço ao conceito de letramento, que significa ensinar as crianças a ler e escrever compreendendo a essência dos exercícios. Mas nem todos os educadores estão otimistas com as mudanças. Os críticos dizem que estudantes do Sudeste que não alcançarem pontuação para estudar nas faculdades de seus estados terão nota suficiente para cursar as instituições do Norte e Nordeste, tomando o lugar dos candidatos dessas regiões.
A discussão retorna à necessidade de um investimento de impacto no ensino público para que a desigualdade social, ao invés de aumentar, ganhe menores proporções. O programa Ensino Médio Inovador é um caminho. Em três anos, o Ministério da Educação (MEC) espera que o Enem seja o principal processo de seleção de universidades públicas e privadas. Caso a evolução do Enem se concretize, juntamente com as mudanças positivas prometidas para os ensinos fundamental e médio, a esperança é que em dez anos, cálculo dos especialistas, a educação brasileira forme pessoas mais preparadas para a vida - e resulte em uma nação cada vez melhor. Para o ministro da Educação, Fernando Haddad, o Enem, no seu formato original, falhou no seu principal propósito, que era acabar com o vestibular tradicional.
As principais universidades não viam o Enem como um instrumento adequado para seus processos seletivos nem os secretários estaduais viam no exame o formato adequado para orientar o currículo do ensino médio. “Daí a mudança foi necessária e recebeu apoio em função de ter sido um formato negociado, tanto com os secretários estaduais quanto com os reitores”, observa. O ministro diz não ter dúvidas que o Enem vai mudar o jeito de as escolas ensinarem. “Ele vai reorientar o ensino médio, fazendo com que diminua o conteúdo e permita o aprofundamento dos temas pertinentes a essa etapa de ensino”, afirma. A secretária de Ensino Superior do MEC, Maria Paula Dalari, acredita que essas universidades ainda se conscientizarão da importância do exame. "Ele é um instrumento para elevar a qualidade do ensino no País, conclui."
Revista Istoé, Francisco Alves Filho e Suzane G. Frutuoso – 13/09/2009
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